terça-feira, 11 de outubro de 2011

REVOLUÇAO DE 1383-1385


"Da fome, da peste e da guerra, livrai-nos Senhor!"
Esta era a prece mais ouvida durante o século XIV, devido à crise económica que se abateu sobre a Europa e que provocou grandes fomes e doenças epidémicas, das quais se destaca a peste negra que vitimou um terço da população.
A estas calamidades juntou-se uma outra não menos violenta e dramática: a Guerra dos Cem Anos que acabou por ter repercussões em quase todos os países, inclusivé nos da Península Ibérica, com as guerras fernandinas.
Perante a miséria, o desespero e o medo da morte, as populações agitam-se e revoltam-se contra os ricos e poderosos que sempre as exploraram.
Em Portugal vivia-se idêntica crise económica e social, agravada com a crise política que se seguiu à morte de D. Fernando, em Outubro de 1383.
A herdeira legítima do trono português era a filha de D. Fernando e de D. Leonor Teles, casada uns meses antes com o rei de Castela. Segundo o estabelecido no contrato de casamento, enquanto D. Beatriz não tivesse um filho maior, Portugal seria governado por D. Leonor, a rainha viúva.
Mas o povo não gostava de D. Leonor! Já em 1372, os mesteirais de Lisboa, seguidos depois pelos de Santarém, Alenquer, Tomar e Abrantes, se tinham manifestado violentamente contra o casamento de D. Fernando com D. Leonor, ousadia que foi duramente castigada.
Em 1383, o povo, a burguesia e alguns membros da baixa nobreza não se conformavam com o governo de D. Leonor, favorável aos interesses de Castela e da grande nobreza senhorial, tecendo então uma conspiração para matar o Conde João Fernandes Andeiro, amante e principal conselheiro político da rainha viúva. Esta conspiração foi chefiada por Álvaro Pais, rico burgês de Lisboa e Chanceler de D. Pedro e D. Fernando.

Para executar o plano da morte do Conde Andeiro foi escolhido D. João, Mestre da Ordem Militar de Avis, filho ilegítimo de D. Pedro e meio-irmão de D. Fernando.
O povo de Lisboa apoiou a morte do Conde Andeiro e passou a ter o papel mais importante na condução dos acontecimentos que se seguiram. Perante o alarme para acudirem ao Paço a fim de evitar a morte do Mestre por traição do Conde e da Rainha, os populares de Lisboa aclamam-no e proclamam-no "Regedor e Defensor do Reino" , obrigando alguns burgueses receosos a aceitar esta decisão.
Seguiram-se revoltas populares que alastraram por todo o país, dirigidas sobre - tudo contra os poderosos nobres e clérigos que recusavam aderir à causa do Mestre. O Bispo de Lisboa foi uma das muitas vítimas que morreu às mãos da vingança popular.
O país ficou dividido quanto à sucessão ao trono. A maior parte da nobreza apoiava D. Beatriz e o povo, a burguesia e a baixa nobreza apoiavam o Mestre de Avis.
O descontentamento popular e os impulsos revolucionários são depois canalizados para a defesa da independência de Portugal, quando o rei de Castela invade o país e cerca Lisboa, em 1384, para defender o direito ao trono da sua mulher, D. Beatriz.
Após longos meses de cerco a Lisboa, os exércitos castelhanos retiram-se com medo da peste que entretanto se tinha declarado e em Março de 1385 as Cortes reuniram em Coimbra a fim de escolher um rei entre os vários candidatos ao trono. Graças aos argumentos do Doutor João das Regras, foi aclamado rei o Mestre de Avis, com o nome de D. João I.
Mas o rei de Castela não se conformou com a decisão das Cortes portuguesas e voltou a invadir Portugal com um exército poderoso, no qual se incluíam alguns nobres portugueses que apoiavam D. Beatriz.
Em 14 de Agosto de 1385, os exércitos castelhano e português defrontaram-se em Aljubarrota, acabando a batalha com a vitória dos portugueses e a confirmação da independência de Portugal. Na preparação desta batalha destacou-se a estratégia e técnica militar do quadrado, levada a cabo por D. Nuno Álvares Pereira.

A Sociedade Medieval

 

“Sociedade feudal” é o termo usado para descrever a sociedade medieval. Tratava-se de um sistema ou organização baseado na atribuição de um pedaço de terra em troca de serviços. Na sociedade feudal, um dos conceitos base era o de lealdade.
O rei fazia doações de terra aos nobres do reino. Estes prometiam, em troca, defender o rei com soldados. Por sua vez, os nobres dividiam a sua terra com os cavaleiros. Na base desta organização social encontravam-se os camponeses, que trabalhavam a terra mediante promessa de protecção.

O padre, o cavaleiro e o camponês são três figuras que exprimem o essencial da Idade Média em termos de organização social. Estas ordens equivaliam a três actividades distintas: os que rezam, os que combatem e os que trabalham.

Os eclesiásticos consagravam a sua vida às tarefas espirituais e intelectuais. Podiam ser seculares, ou seja, viver na vida comum, como párocos ou ser regulares. Estes últimos eram monges e obedeciam a regras. Alguns viviam em minúsculos mosteiros, outros conheciam o luxo das catedrais e dos grandes centros de peregrinação. Todos se consagravam a missões sociais e eram sacerdotes, médicos, professores e conselheiros. Nenhum monge tinha bens próprios. As terras e casas o­nde viviam e a roupa e objectos que utilizavam só à Igreja pertenciam.

Os que combatiam eram os homens de guerra e tinham por missão garantir a paz. Os cavaleiros eram uma elite guerreira e tinham um importante estatuto na sociedade. A cavalaria representava o difícil equilíbrio entre a elegância e a brutalidade. Era o ideal de um mundo que vivia constantemente em guerra.

A maior parte das pessoas eram camponeses pobres. Cultivavam a terra e trabalhavam para um pequeno número de grandes proprietários de terras, que eram também chefes militares, geralmente cavaleiros. Em contrapartida, estes davam-lhes protecção contra os ataques inimigos.